domingo, 7 de junho de 2009

É


Vou apertar, mas não vou acender agora
Vou apertar, mas não vou acender agora
Se segura malandro, pra fazer a cabeça tem hora
Se segura malandro, pra fazer a cabeça tem hora
É você não está vendo
Que a boca tá assim de corujão
Tem dedo de seta adoidado
Todos eles afim de entregar os irmãos
Malandragem dá um tempo
Deixa essa pá de sujeira ir embora
É por isso que eu vou apertar, mas não vou acender agora

Bezzera da Silva

Tudonosso.







Meus amigos
São antigos
Como meus ideais
Como os vinil que guardei, crendo que eles vale mais
Pois swatch não tem valor, tem preço
Valor quem tem é quem tá comigo desde o começo
Copo na mesa, risada, volta atmosfera
Conversação, louvores, a quem é parcero, já era
Só que, tá sumidão
Tempo aqui num sobra não
Levo os dia com os irmão
Essa de bate cartão
Mas é isso, tem que ter a responsa todo o dia
Fazer o caminho, atrás dos dia de alegria
Retornar como o sol, sempre acontece
Se vejo um mano "yo!" aí quem é vivo sempre aparece
Então chega
Pede uma breja
Puxa uma cadera
Porque assunto a gente tem pra tarde inteira
Amizade verdadeira
A gente sente
Eu posso ficar 3 vida sem trombar que nóis é amigo pra sempre

Meus amigos são tudo pra mim
Enfim ..


EMICIDA

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala,

nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe o custo de vida,

que o preço do feijão, do peixe, da farinha,

do aluguel, do sapato e do remédio

dependem das decisões políticas.

O analfabeto político

é tão burro que se orgulha

e estufa o peito dizendo

que odeia a política.

Não sabe o imbecil que,

da sua ignorância política,

nasce a prostituta, o menor abandonado,

e o pior de todos os bandidos,

que é o político vigarista,

pilantra, corrupto e lacaio

das empresas nacionais e multinacionais.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Mundo Cão



Tô cansado mãe, vou dormir.
Estômago do caraí, acho que é gastrite.
Cobertor fino, parece lençol, mas um dia melhora.
Os ruídos dos sons às vezes incomodam, mas na maioria ajudam.
Pelo menos sei que tem um monte de barraco cheio, monte de gente vivendo.
Ontem terminei mais uma letra, talvez o disco saia um dia, senão é melhor correr trecho.

Acorda preto.
O quê...o quê...
Acorda logo.
Mas o quê...
Vamo logo, porra.
Ai, peraí, o que tá acontecendo.
Levanta logo, preto, desce pro bar.
Mas eu...
Desce pro bar, porra.
Tô indo.

Tento pegar o chinelo, cutuco com o pé embaixo da cama, mas não acho.
Todo mundo lá embaixo, o bar da minha mãe já tá fechado, cinco homens, é a Dona Zica, a Rota.
É o seguinte, por que esse bar só tem preto?
Ninguém responde, vou ficar calado também, não sei por que somos pretos, não escolhi.
Vamos, porra, vamos falando, por que aqui só tem preto?
Porque...porque...
Por que o quê, macaca?
Minha mãe não num é macaca.
Cala a boca, macaco, eu falo nesse caralho.
O homem se irrita, arranca a caixa de som, joga no chão.
Fala, macaca.
É que todo mundo na rua é preto.
Ah! Ouviu essa, cabo, todo mundo na rua é preto.
Por isso que essa rua só tem vagabundo, só tem nóia.
Penso em falar, sou do rap, sou guerreiro, mas não paro de olhar a pistola na mão dele.
É o seguinte, vocês vivem de quê aqui?
Do bar, moço.
Moço é a vaca preta que te pariu, eu sou senhor para você.
Sim, senhor.
Minha mãe não merece isso, 20 anos de diarista.
E você, neguinho, o que tá olhando aí, decorando minha cara para me matar, é? Você pode até tentar, mas a gente volta aqui, põe fogo em criança, queima os barracos e atira em todo mundo nessa porra.
Ai! Meu Deus.
Minha mãe começa a chorar.
Você trabalha de quê, seu macaco?
Tô desempregado.
Tá é vagabundo, levar lata de concreto nas costas não quer, né?
Ele talvez não saiba que todo mundo na minha rua é predreiro agora, ele talvez não saiba.
Sabe o que você é?
Não.
Você é lixo, olha suas roupas, olha sua cara, magro que nem um preto da Etiópia, vai roubar, caralho, sai dessa.
Sou trabalhador.
Trabalhador o caralho, você é lixo, lixo.
Cai cuspe da boca dele na minha cara, eu sou lixo agora.
Eu canto rap, devia responder a ele nessas horas, falar de revolução, falar da divisão errada do país, falar do preconceito, mas...
É o seguinte, seus montes de bosta, vou apagar a luz, e vou atirar em alguém.
Mas capitão...
Cala a boca, caralho, você é da corporação, só obedece.
Sim, senhor..
Ou tem algum familiar seu aqui, algum desses pretos?
Tem não.
Ah! Mas se eles te pegam na rua, comem sua mulher, roubam seus filhos sem dó.
Certo, capitão.
Então apaga a luz.
O tiro acontece, eu abraço minha mãe, ela é magra como eu, ela treme como eu.
Todo mundo grita, depois todo mundo fica parado, o ronco da viatura fica mais distante.
Alguém acende a luz.
Filho-da-puta do caralho, atirou no teto, grita alguém.